quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Por que o Brasil não tem indignados?
JUAN ARIAS*
Do El País
O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha demitido dois de seus principais ministros (o da Casa Civil, Antonio Palocci, uma espécie de primeiro ministro, e o de Transportes, Alfredo Nascimento), herdados do governo de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, demitidos sob os escombros da corrupção política, pode-se perguntar aos sociólogos por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos sedimentou a idéia de que “todos são uns ladrões” e que “ninguém vai para a cadeia”, não exista o fenômeno, hoje em voga em todo o mundo, do movimento dos indignados.
É que os brasileiros não sabem reagir diante da hipocrisia e falta de ética de muitos dos que os governam? É que não lhes importa que os políticos que os representam, no Governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios, sejam descarados sabotadores do dinheiro público? Isso se perguntam não poucos analistas políticos.
Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes têm apresentado até agora a menor reação diante da corrupção dos que os governam. Curiosamente, a mais irritada diante do assalto aos cofres públicos por parte dos políticos, parece ser a primeira presidente mulher, a ex-guerrilheira Dilma Rousseff, que demonstrou publicamente seu desgosto pelo “descontrole” em andamento em áreas de seu governo. A presidente já retirou de seu governo – diz que ainda não terminou a limpeza – dois ministros chaves, com o agravante de que foram herdados de seu sucessor, o popular Lula, que lhe pedira para mantê-los no governo.
Hoje a imprensa diz que Dilma começou a desfazer-se de certa “herança maldita” de hábitos de corrupção do passado. E por que não provoca eco nas pessoas na rua, ressuscitando aqui também o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?
O Brasil, depois da ditadura militar, saiu às ruas inspirado pela marcha das “Diretas já”, para pedir a volta das urnas, símbolo da democracia. Também o fez para obrigar ao ex-presidente Fernando Collor a deixar seu cargo diante das acusações de corrupção que pesavam sobre ele. Mas hoje o país está calado diante da corrupção em andamento. Os únicos capazes de levar para a rua até 2 milhões de pessoas são os homossexuais, os seguidores das igrejas evangélicas e os que pedem a liberação da maconha.
Será que os jovens não têm motivos para exigir um Brasil não somente cada dia mais rico (ou menos pobre, pelo menos), mais desenvolvido, com maior força internacional, se não também menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, onde um cidadão comum, depois de 30 anos de trabalho, se aposente com 650 reais (400 euros), enquanto um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros)?
Em breve o Brasil será a sexta maior potência econômica do mundo, mas no momento é o mesmo em desigualdade social e na defesa dos direitos humanos. Entretanto, trata-se de um país onde não se permite à mulher abortar, o desemprego de pessoas de cor alcança uns 20% – contra 6% de brancos – e a polícia é uma das mais violentas do mundo.
Há quem justifique a apatia dos jovens pelo fato de que uma propaganda bem-sucedida os convenceu de que agora o Brasil é invejado por todo o mundo (e é em outros aspectos). Ou que a saída da pobreza para 30 milhões de pessoas tem levado a acreditar que tudo está bem, sem compreender que um cidadão da classe média europeia equivale mesmo hoje a um rico daqui.
Outros justificam pelo fato de os brasileiros serem gente pacífica, pouco dada a protestos, e que gosta de viver feliz com o que tem e que trabalha para viver, em vez de viver para trabalhar. Tudo isso também é certo, mas não se explica ainda por que, em um mundo globalizado, onde se conhece no mesmo instante tudo o que acontece no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada, os brasileiros não lutem para que o país, apesar de ser mais rico, também seja mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Assim é o Brasil que os honestos sonham deixar para seus filhos, um país onde as pessoas, no entanto, não perderam o gosto de desfrutar do pouco ou muito do que tem e que seria ainda melhor se surgisse um movimento de indignados, capaz de limpá-lo das sujeiras da corrupção, que agridem todas as esferas do poder.
(*) Publicado em 7 de julho de 2011

Fonte :http://www.correaneto.com.br/site/?p=13775

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